O transtorno de personalidade borderline atinge cerca de 6% da população mundial.
Sumário:
- O que é o transtorno de personalidade borderline
- 6 sinais do Borderline
- Principais doenças comórbidas
- Tratamento e prognóstico
O que é o transtorno de personalidade Borderline?
O transtorno de personalidade Borderline, também chamado de transtorno de personalidade limítrofe, é o tipo de transtorno de personalidade mais comum e mais estudado.
Geralmente suas características surgem na adolescência ou início da vida adulta. Acomete mais mulheres do que homens.
Antigamente não se falava em diagnóstico de transtorno de personalidade antes dos 18 anos de idade, porém o diagnóstico de borderline mostrou validade e estabilidade semelhante ao diagnóstico de adultos. Com melhores respostas ao tratamento quando tem início precoce.
O termo borderline, criado desde a década de 1940, expressa numa visão psicanalítica algo que está no limite, na fronteira entre um padrão de funcionamento neurótico e psicótico.
Sabemos que a personalidade é fruto não só de características inatas (padrões genéticos e neurobiológicos), mas também de experiências de vida.
(Veja meu artigo sobre transtornos de personalidade e veja a definição de personalidade e o que é um transtorno de personalidade – Link ao final deste artigo)
É comum na história de um paciente borderline identificarmos um tipo de apego inseguro, e relatos de traumas (abuso sexual, abuso físico, negligência, violência verbal, separação ou perda dos pais).
A insegurança no apego gera prejuízos no aprendizado social, gerando representações desadaptativas de si e do outro, o que muitas vezes está no centro das dificuldades interpessoais que o paciente apresenta.
Existem estudos que relacionam a Ocitocina (ou oxitocina), um neuro hormônio que promove sentimento de amor, vinculação social e bem estar, com essa dificuldade do paciente. E por isso, “objetos de apego”, como um animal de estimação, pode ser terapêutico e produzir muito bem estar para as pessoas.
Existem alterações funcionais a nível de amígdala cerebral e córtex pré-frontal que justificam a hiperreatividade, dificuldade de controle de raiva, apresentado pelos pacientes.
6 sinais do borderline
- Instabilidade emocional
- Impulsividade
- Relações interpessoais intensas, instáveis e conflituosas
- Sentimento crônico de vazio
- Comportamento autodestrutivo
- Dificuldade com a autoimagem
Principais doenças comórbida
É comum o paciente borderline apresentar algum outro transtorno mental, os principais são: Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), depressão maior, distimia, uso de substâncias, TDAH, outros transtornos de personalidade.
Tratamento e prognóstico
A base do tratamento do paciente com borderline é a realização de psicoterapia. A técnica mais utilizada e eficaz é a Terapia Comportamental Dialética. Mas várias outras abordagens também são benéficas, como tratamento baseado na mentalização, terapia focada na transferência e outros.
A depender dos prejuízos nas relações familiares, a terapia familiar também pode ser indicada.
O objetivo é estabelecer uma aliança terapêutica, ajudar o paciente no manejo dos comportamentos disfuncionais:
- Estabelecer um vínculo terapêutico com relação de confiança mútua
- Diminuir o sofrimento do paciente
- Diminuir comportamentos autolesivos
- Diminuir sua desvalorização e aumentar sua assertividade
- Aumentar sua responsabilidade, diminuindo o medo de falhar e de ser abandonado;
- Diminuir a intensidade e a reatividade de suas respostas emocionais
Saber comunicar o diagnóstico ao paciente pode gerar alívio para ele. Entender que a dificuldade de regular suas emoções tem explicações neurobiológicas pode aliviar muito o sofrimento e a culpa do paciente. É muito comum que eles se questionem – “Por quê eu sou assim?”. Entender é o primeiro passo para grandes mudanças.
Muitas vezes, o paciente com Borderline irá se beneficiar do uso de medicações. As medicações no tratamento do transtorno de personalidade borderline ajudam no controle da raiva, da impulsividade, na instabilidade do humor. Claro, que sempre é orientado tratar as comorbidades se o paciente tiver.
A depender dos pacientes, podemos lançar mão do uso de estabilizadores de humor, antidepressivos, antipsicóticos. A indicação deve ser sempre individualizada e levar em consideração a necessidade de uso contínuo ou apenas uso pontual da medicação, em situações de crises.
Estudos que acompanham ao longo do tempo pacientes com diagnóstico de transtorno de personalidade borderline, que engajam bem na terapia individual, possuem remissão de critérios diagnósticos depois de 2 anos de acompanhamento contínuo.
Graças a nossa capacidade de neuroplasticidade, de conseguir ter experiências de vida mais assertivas e saudáveis, sabemos que o paciente tem grande potencial de mudança. E cerca de 50% dos pacientes podem diminuir os critérios diagnósticos ao longo da vida.
Dra. Luciana Rêgo
Médica psiquiatra
CRM-SP: 212125
RQE: 114648
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